Testemunhos

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Queridos filhos,
Um dia espero que consigam perceber o verdadeiro sentido do amor.
Um amor que pode ter diversas formas, diversos ses, diversos sentidos. um amor que dá vida e um amor que permite recomeçar.
Queridos filhos, um dia espero que se encham de orgulho da mãe e do pai e da história de amor tão bonita que tiveram, que vos deu lugar. Também essa história deu lugar a um outro amor, amor esse que a mãe e o pai, vos dão e darão sempre, ainda que de forma diferente, nos dias de hoje.
Um dia, meus queridos filhos, vou-vos contar, que Amar começa em nós próprios e quando nos Amamos a nós, conseguimos amar o mundo, enchê-lo de côr, de leveza, energia e alegria. Que fazemos bem aos outros. Que conseguimos contagiar tudo à nossa volta, e nesse amor, cabe o amor de mãe, o amor de pai, o amor de irmãos, o amor de família, o amor de avós, bisavós, tios e primos, e ainda o amor de namorados.
Amar nem sempre é fácil, é como andar de bicicleta, tropeçamos e caímos várias vezes, até aprendermos. E neste amar, também há espaço para arranhões, feridas e marcas. Sei que vos deixámos uma marca, e no dia em que o amor da mãe e do pai como namorados, deu apenas lugar ao amor de amigos, ao amor de uma história de família que agora seguiria um modelo matemático diferente, um modelo em que subtraímos a presença da mãe e do pai à semana, um modelo onde as equações passaram a ter as saudades da nossa família como infinitas, mas onde sabemos que o ponto final (e agora sabemos que) era necessário, pela paz e amor que ainda, todos, sem exceção, sentimos...
Um ponto final que nos deu a todos um Recomeço.
Um dia meus queridos filhos, vão saber, que naquele que muitos consideraram egoísmo, foi um mero ato de coragem e de amor, que a mãe e o pai tiveram por todos nós. Um amor, que fica e permanece bonito e que nos ajuda a escrever, “de mãos dadas”, a vossa história. Porque a mãe e o pai, andarão sempre de mãos dadas no vosso crescimento, nas vossas conquistas, nos vossos avanços e recuos, nas vossas seguranças e incertezas, nas vossas dúvidas e nas vossas perguntas e porquês. E não duvidem disso, por um segundo.
“Porque é que a mãe deixou de amar o pai?”, perguntaste-me uma vez, meu querido filho, meu amor para a vida, meu amor sem medida. Respondi-te com lágrimas escondidas, com a voz embargada, que a mãe não tinha deixado de amar o pai. Que podemos e devemos amar sempre, de diversas formas, como o amor de mãe, como o amor de amigos, como o amor de irmãos. Que hoje, percebia que o amor que dizia não sentir, estava cá, mas sob esta forma de amor de amigos, de um amor respeitador, mas que não soube amar mais nem de forma diferente, a dada altura. Um amor que me encheu tantas vezes a almofada de lágrimas, por saber não resistir ao que mais queria e ambicionava na vida...uma família, um projeto.
Hoje queridos filhos, sei que amar é tudo isto e mais...sei que reconhecermos o nosso caminho, o nosso eu, o que nos move, o que nos enche a alma, é acima de tudo o amor por nós próprios. E é em cada sorriso, cada lágrima, cada tropeção, que nos erguemos e Amamos com toda a força, para que tudo faça sentido. Para que a amizade dê lugar ao namoro e este dê lugar ao casamento, dê lugar à família, dê lugar à discórdia e ao abrigo, e que embora tenha dado lugar a uma separação, nos mantém unidos. Nos faz saber que continuamos a amar e a ser amados, todos, cada um à sua maneira. E porque, queridos filhos, o amor vence tudo, independentemente da forma que ganhe.
Na minha forma, no meu eu, meus queridos filhos, vou amar-vos sempre, com todo o coração....” 

A., 34 anos